É absolutamente desprezível a coluna publicada por Artur Xexéo no jornal O Globo, dia 28/02 passado. Para expressar a sua opinião contrária à recomendação do Ministério Público de São Paulo (em que solicita ao autor deixar claro que as escolas que recusam crianças com deficiência podem sofrer sanções penais, cíveis e administrativas) o referido escritor utiliza argumentos falaciosos e surreais.
A discussão sobre a participação do Ministério Público é sempre bem vinda em um país que mal acaba de largar as fraldas após um período intenso de ditadura. Mas é bom também que comecemos a tomar responsabilidade e entender que essa desculpa não pode ser utilizada como grito comum a cada vez que o Estado tentar recomendar ou sugerir algo àqueles que produzem conteúdos para as massas. Jornais, redes de TV e de rádio têm responsabilidades, pois agem sob a égide de "verdadeiros e objetivos". Por isso, quando estão transmitindo conceitos e valores para milhões de pessoas podem - quiçá devem - estar alinhados com grupos e setores da sociedade, entres estes o próprio Estado através de suas entidades nacionais, estaduais ou municipais. Sem prevalência ou imposição. Mas através de um diálogo sadio e positivo.
Entretanto, o pior de tudo não está aí. Está no fato do colunista defender a novela e seu autor como os grandes nomes da luta contra os preconceitos. Utilizando expressões típicas de nosso presidente ("nunca se viu uma novela que atacasse tanto o preconceito") o jornalista eleva Manoel Carlos à condição de injustiçado e afirma que este fez, ainda que sem obrigação, "mais pelos portadores de Síndrome de Down e por seus familiares do que qualquer campanha do Governo". Não é verdade. Manoel Carlos pontuou sua história com diversos assuntos importantes para a sociedade (síndrome de Down, alcoolismo, homossexualismo, abandono familiar, o perigo enfrentado pelos servidores da justiça, anorexia, racismo, dentre outros) sem se aprofundar em nenhum e sem permitir que qualquer desses fique marcado na sociedade. Na realidade, a partir de segunda-feira, com a estréia de "Paraíso Tropical", as páginas da vida voltarão a ser individuais e os temas cairão no esquecimento que lhes é peculiar. Seria mais benéfico se o autor escolhesse um deles -somente um- e se destinasse a utilizar a enorme audiência de seu folhetim para, de fato, contribuir com a evolução da sociedade. E a novela ainda pecou ao colocar os pais do menino brutalmente assassinado no Rio de Janeiro, de maneira sensacionalista, parecendo estar apenas em busca dos grandiosos números do IBOPE. Se Manoel Carlos teve algum mérito foi falar em tais assuntos. Só e nada mais. E isso de maneira confusa e inacabada em diversas situações. Dizer além disso sobre ele é falso e pode passar a impressão de que o fato do jornal onde está a coluna levar o mesmo nome da rede que transmite a novela acaba por influenciar determinadas opiniões. Prefiro crer que não é o caso.
Por fim, se o colunista aqui citado fosse, de fato, engajado na luta contra o preconceito em relação às pessoas com deficiência, não usaria mais o termo "portador de Síndrome de Down". O verbo "portar" é adequado para situações em que é facultada a seu sujeito a opção do porte ou não. Portar uma arma ou uma mochila. Não é esta a situação de quem tem a referida síndrome. Por isso, aconselha-se usar "pessoas com deficiência" e "crianças com Síndrome de Down" em vez de "portadores de deficiência" e "crianças portadoras da Síndrome de Down". Uma pequena mudança de palavra, ferramenta de trabalho de um jornalista, que poderia indicar uma postura verdadeiramente atuante e seria uma falha a menos em um texto totalmente dispensável nos dias atuais.
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3 comentários:
Infelizmente a Globo sempre busca o papel de boazinha. O pior é quando, em casos como o do menino assassinado, passa a querer ser ator de mudanças, propondo coisas como se fossem soluções do tipo "redução de maioridade penal" e outras repressivas, num discurso inútil e falacioso. Se repressão resolvesse, ninguém voltava pra cadeia, já que a violência sobre os seres que vivem por lá não é pouca.
Complicado, meu caro, complicado!
Abraços
Tu tá escrevendo que nem advogado. Acho que vc tem que voltar a ler literatura. Do contrário, vai começar a falar supracitado e por aí vai.
Marcelo
É sempre a Globo e sua metalinguagem e o coorporativismo filho-da-puta. Manoel Carlos é o meu saco. Xexéo meu ovo direito. Levar em conta a coluna dele é o mesmo que acreditar nos elogios que o Faustão faz a seus convidados.
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