Eu sabia que após a declaração digna de um asno proferida pelo nosso quase-militar-governador Sergio Cabral ("a população terá que entender o custo do estresse") alguém iria acabar dando uma escorregadela no preconceito. O que eu não esperava é que a declaração viesse logo do vice-reitor para assuntos comunitários da PUC, uma instituição católica, que deveria estar mais preocupada em pregar a união do que contribuir para a partilha que se encontra a cidade do Rio de Janeiro.
Augusto Sampaio alega que a favela da Rocinha não poderia passar por operação semelhante à realizada no Complexo do Alemão, dias atrás, devido a sua localização geográfica enquanto ligação entre Zona Sul e Barra da Tijuca. Nas entrelinhas, fica a idéia de que a população que reside no entorno do Complexo (rapaziada de Ramos, Olaria, Penha, Inhaúma e Bonsucesso) pode sim encontrar problemas no trânsito da Av. Brasil, uma das mais importantes vias rodoviárias da cidade. Agora, quem mora próximo às praias, ah não, esses não podem sofrer problemas durante seu percursso casa-trabalho-FashionMall-casa.
É certo que, fosse perguntado, o distinto Vice-reitor categoricamente afirmaria que este blogueiro entendeu mal suas palavras e que não teria sido isso o que ele queria dizer. Certamente que não. O interessante é que a ausência de intenção preconceituosa, longe de tranquilizar, ateia lenha à fogueira da preocupação. Porque demonstra que, dentro de nós, está fixada, solidificada e estabilizada a idéia de que, na cidade, moram dois tipos de cidadãos. Aqueles que, apesar de tudo, tem que passar pelas dificuldades mesmo. E os abonados, a quem não devemos e não podemos incomodar. Uma cidade dividida. Na economia, na geografia e, o que é pior, no coração de seus moradores.
PS: A declaração do Vice-reitor Augusto Sampaio está presente na edição de hoje do jornal O Globo, perdida num box da página 21.
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Um comentário:
O Sérgio Cabral é um asno e o vice-reitor da PUC é da mesma família.
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