quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Estações

Há dias em que você acorda
e tudo está igual

Mas você desliga o rádio
(pois não é mais hora daquela canção)

E aí
tudo fica
diferente

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Despretensão

Se espero
desespero

Então
inverto
e des-espero

E sigo à espera
de esperança

Da série "Por que não escrevi isso antes?"

Tactica y Estrategia
de Mario Benedetti

Mi táctica es
mirarte
aprender como sos
quererte como sos

mi táctica es
hablarte
y escucharte
construir con palabras
un puente indestructible

mi táctica es
quedarme en tu recuerdo
no sé cómo ni sé
con qué pretexto
pero quedarme en vos

mi táctica es
ser franco
y saber que sos franca
y que no nos vendamos
simulacros
para que entre los dos
no haya telón
ni abismos

mi estrategia es
en cambio
más profunda y más
simple
mi estrategia es
que un día cualquiera
no sé cómo ni sé
con qué pretexto
por fin me necesites

Sem saída

Se digo tudo o que sinto
eu minto
Pois sinto bem mais
do que posso expressar

Se minto tudo o que digo
eu sinto
Pois são sentimentos que gritam
e não querem calar

Se minto tudo o que sinto
eu digo
Pois só aprendi a sentir
não sei disfarçar

E sem saber como agir
Mentir, dizer, sentir?
Escrevo
e deixo a poesia
despretensiosa
me salvar

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Sétimo dia

Tem dias que qualquer dor eu choro
Qualquer riso eu coro
Qualquer tempo demoro
Qualquer verso eu decoro

Tem noites que qualquer dor eu mereço
Qualquer riso adormeço
Qualquer tempo anoiteço
Qualquer verso me esqueço

Tem dias que são tão escuros
Que o verso e o riso, de tão inseguros
se tornam passados,
sem tempos futuros

Tem noites que são pura poesia
Com versos que brilham, com riso, alegria
E são tão acesas que nunca anoitecem
São sempre de dia...

Requisitos

Coca-cola pra mim
só com muito gelo
Pra dormir
preciso da TV ligada
Strognoff tem de ter

batata-palha
Filmes de terror
só de dia
Perfume
em grande quantidade
E pizza tem de ser
calabresa

Agora
Quando o assunto
é Guilherme
aí não importa.
Sujo ou limpo
Chorando ou rindo
Feliz ou triste
Quieto ou agitado
Em qualquer situação
estou sempre a postos
Amor de verdade.
Sem exigências.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Monólogo a dois

São tantas pessoas
a me dizer tantas coisas
com tantas interpretações
que só no silêncio do teu olhar
ou no murmúrio do teu idioma indefinido
encontro a compreensão
para tudo o que busco

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Fragrância

Engraçado
o perfume do seu cabelo
não sair
da minha cabeça

Autofagia

"Se o coração pudesse pensar, pararia"
Fernando Pessoa

Se a minha cabeça
parasse
e pensasse um pouquinho
ela parava de pensar
pra sempre

Obrigado

E segue seu sorriso
a esconder meu juízo

a minorar meus problemas
resgatar meus poemas
a iluminar eclipses
a dirimir tolices
a ignorar a cidade
estancar o meu choro
e a engrossar o meu coro
por mais felicidade

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Preparo

Quatro mãos
dois sorrisos
um beijo
carinho e abraços
a gosto
Esqueça o relógio

Está pronta
uma noite feliz

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Lápide

famoso pela solidez
implodido pela solidão

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Arrumação

(Do livro "Certas incertezas" de Abril/2004)

Engraçada essa minha cabeça
revira tudo pra que eu te esqueça
Mas basta ouvir você falar
já põe a lua no lugar do sol
arruma a mesa, estende o lençol
Abre a porta:
a casa é sua, pode entrar.

Assim seja

(Do livro "Certas incertezas" de Abril/2004)

Que não seja mais
de tristeza o meu sorriso
Nem de alegria a minha dor
Que o sol não apareça mais ao chover
e que o sonho não se dê mais acordado
Que meus olhos não brilhem na amargura
e que o primeiro beijo
não seja mais a despedida
Que o errado não seja o mais gostoso
nem o gostoso seja o mais errado.
Que o escondido não seja o mais visível
Que a segunda não seja o melhor dia
nem o domingo, o fim de uma semana
Que a vida seja simples novamente
e que a loucura deixe de ser o meu abrigo
Que a tristeza me consuma ou me abandone
E que a felicidade retorne a ser
o chão da minha estrada

anatomia de um poeta solitário

(Do livro "Entre o espelho e eu" de Dezembro/2006)

Por companhia
a solidão
Por inimiga
a alegria
Por torcedora
a angústia
Por distância
a paz
Por riqueza
o passado
Por destino
a incerteza
Por teimosia
a esperança
Por ora
o presente
Por certo
muito pouco
e por mim
somente
eu mesmo

non sense

(Do livro "Entre o espelho e eu" de Dezembro de 2006)

Há amores
que terminam.
Outros viram raiva,
ódio,
desprezo.
Mas há também
os amores que evoluem
e se transformam em um sentimento
novo
inominável
desprovido de desejos ou vontades
pedidos ou cobranças
sentimento intransitivo
que apenas existe
independente.

Com a mesma função de um casaco
na bolsa de alguém
em pleno deserto.

Complexo

(Do livro "Entre o espelho e eu" de Dezembro/2006)

Incoerência minha
esse meu medo de altura
essa minha mania de voar tão alto

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Eu por mim

(do livro "Entre o espelho e eu" de Dezembro/2006)

Se me afasto é pra continuar ao seu lado
e se adomerço
é pra manter acordado o sonho de ficarmos juntos
E se não há futuro
é no escuro que consigo claridade
para fossilizar tristezas
destruir certezas e transformar verdades

Sou assim.
Contradição afirmativa de mim mesmo
Sim e náo combinados na mesma freqüência
Sou o certo na hora errada
O caçula da ironia
Sou minha própria poesia
que tanto fala e não diz nada

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Grito

A poesia
que mais fala
é aquela
que cala.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Dúvida II

Com quantas palavras
se escreve um poema
que já terminou?

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Classificados

Troco todos meus poemas
por dias de paz
por noites serenas
sem angústias
sem lágrimas
sem dilemas