Pra que comer
se o alimento
só faz o pensamento
esperar por uma esperança estéra
De que esta matéria
ainda venha a conhecer o que é a vida
Não essa coisa sofrida
em que me arrasto no passar das horas
Como se elas pudessem levar embora
toda a descrença fundada na indiferença
daqueles que, como eu,
sentem frio, fome, calor,
falta de amigos, de abraços, de amor
Mas que por ter mais dinheiro
têm mais respeito
E não me dão, sequer, o direito
de, ao menos, sofrer preconceito
Porque, para eles, não sou preto, não sou branco,
não sou homo, não sou hetero, não sou sombra,
não sou nada.
E segue engasgada a pergunta:
Pra que comer?
Mas respondo como quem, em um segundo,
junta forças pra enfrentar o mundo
e gritar o pouco ar que ainda resta em meus pulmões.
Eu como, seus ladrões,
para pegar de volta
toda riqueza que me foi tomada.
Mas tenham certeza
não falo do ouro, da prata ou da gaita que te faz realeza.
Falo da riqueza de verdade.
A minha dignidade, integridade
mais que isso,
a minha humanidade.
Ouviram? Repito: minha humanidade!
Que a vocês jaz esquecida
vendida entre uma e outra taça de chandon
perdida em meio a caviar, fois grás, croutons
Como se num dia de solidariedade
ali pelo natal, junto às celebridades,
sua falsa alegria me resgatasse.
Mas a minha poesia dura mais que um dia
Ela vem para uma vida toda.
E é para te olhar nos olhos
e declamar este poema
que respondo o problema:
Pra que comer?
Ao contrário de você
não para me exibir.
Como para resistir.
Numa revolução muda
que insiste
e que consiste
em apenas ser.
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Um comentário:
Acho que já li este texto umas 500 vezes. Sempre releio pra relembrar todos os sentimentos que ele me deixa exprerimentar... Intenso e sincero.
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