sexta-feira, 28 de março de 2008

Passagem

Nada melhor que Paris
pra fechar essa cicratiz
que as tuas palavras mais duras
resolveram fazer abertura
no meio do meu peito

Nada melhor do que o Sena
pra refrescar meus poemas
E na volta, fechada a ferida
esquecer dessa despedida
E recomeçar diferente, de qualquer outro jeito

Triste fim do meu amor por você

Teve uma vida curta, porém bela
(Porque vidas curtas também carregam consigo um toque de beleza)
Sua casa era a dúvida
Não pensava em certeza
Não dispunha de ontem, nem de amanhã
O hoje sempre fora sua preferência
Enfrentou tempestades, turbulências
mas também dias de sol, dias de paz
Eis que em uma noite,
eu que sempre sonhava acordado,
dormindo ao teu lado, parei de sonhar
E desde então
como um fim de um poema
ou de um samba-canção
meu amor por você
não quis mais acordar

segunda-feira, 24 de março de 2008

Labuta

Se eu soubesse teus segredos
eu jogava fora teus medos
e punha em seu lugar teus sorrisos
de maneira intermitente
Faria tudo diferente
do que foi feito outrora
Transformava as horas ao teu lado
em um relógio parado
que não andasse pra trás, nem pra frente
E que só adiantasse a cada despedida
fazendo chegar depressa a hora
de te encontrar novamente
Se eu soubesse como
eu embalava teu sono com tantos carinhos
que qualquer pesadelo ficaria mansinho
qualquer sonho bom não seria sozinho

Mas não sei ser chato
então não insisto
Relaxo, não pergunto
mas também não desisto
Me acalmo, espero,
tento, persisto
Tudo com calma
sem correria
Sempre tranqüilo
com muita poesia
Na esperanca dessas letras
em forma de versos
promoverem o reencontro
entre você e a alegria

Resgate

Se você quer me ajudar
esqueça a pressa
fique por perto
seja minha calma

Me empreste suas mãos
Me faz uma massagem
Nos ombros
No ego
Na alma

Reprise

De tanto mandar no meu peito
um dia você, sem respeito,
decide mandá-lo embora
Explicou-me suas desculpas
disse não ter mais jeito

“bá-blá-blá
não era a hora”
Assim, parti por decreto
Com você por dentro
mas sem te ter por perto

Rumo indefinido,
destino final incerto
Viajante a contra-gosto
Com nuvens pesadas no peito
Pancadas de chuva no rosto

E então, eis que em outro dia

quando a minha poesia
caminhava sem inspiração
Surge um olhar diferente
a instalar refletores
no meu coração
Desses momentos
em que nada se espera
e nascem flores no outono
e tudo se faz primavera
E o meu sono que era mudo
recomeça a sonhar
E o escuro que era tudo
decide brilhar


Mas quando em mim

já queimava o verão
ressurge você
a trazer confusão
Destruindo a calmaria
Provocando ventania
caos, furacão
A querer reescrever
nossa história

sem ligar pra memória
de que foi escolha sua
esse ponto final
E sem ligar pro meu contexto,

com seu encanto desleal,
você destrói meu texto
com seu temporal

E modifica o meu roteiro
diferente, genial
Sem perguntar a mim,
o papel principal,
se aceito esse fim
em que acabo chorando
em que acabo chovendo
como antes
tudo igual

quarta-feira, 19 de março de 2008

Demandas

Estranho seria
se fosse o contrário
Se esse sorriso diário
não existisse
Se quando você partisse
não fosse verdade
essa ponta de saudade
ainda que indevida
ainda que cedo

Estranho seria
se esse medo
não invadisse a gente
Se não fossemos prudentes
pra respeitar o passado
não pensar no futuro
e só curtir o presente

Estranho seria
abrir mão do teu lado
Não ficar acordado
te assistindo dormir
Me embalar no teu sono
e não querer repetir
Ter a cama vazia
e não topar dividir

Estranho seria
se tanta poesia
não quisesse nascer
Se a tua companhia
ao final de um dia
não me desse prazer
Se o tom que a gente usa
em nossas conversas
não fosse um tom de calma
fosse descuidado
sem nada a temer
Se entre tanta gente
com tantos sorrisos
eu escolhesse outra musa
que não fosse você

sábado, 15 de março de 2008

Desencaixes

Você pede calma
Eu desespero
Você pensa em parar
Aí mais eu quero
Você fala em prudência
Eu exagero

Você pisa o freio
Eu acelero
Medo, incerteza, dúvida
Eu desconsidero
Se o assunto é passado
eu nem tolero
Mais tento fingir
Mais fico sincero

Mas se ameaço partir
te basta sorrir
que eu retorno
e te espero

Infindade

(do livro "Certas incertezas", de abril/2004)

Ando falando sozinho pelas ruas
que é pra ver se você me escuta
mas, putz, você nem me ouve
Mas não tem nada não
Um dia eu te telefono
e te tiro do teu sono
só pra te dizer que tá tudo mudado
Que eu não tô mais casado com a tristeza
Que eu a troquei pela certeza
de te querer do meu lado

Mas talvez, nesse dia
nesse mês, nesse ano
a ligação dê engano
ainda que você atenda
E exista uma outra mão
que toque a sua
um outro olhar
contempla a lua
ao lado do teu
E eu?

Bom, eu vou pegar o vinho
e brindar sozinho
à nossa louca relação
Seguindo perdido
feito um doido varrido
mas nos fazendo unidos
pela minha solidão

quinta-feira, 13 de março de 2008

Surdez

Todo esse silêncio
a estourar meus tímpanos

terça-feira, 11 de março de 2008

Apreensão

Em busca de culpados
encontro
o espelho

Stripper

Na boca
o sabor do fracasso
No peito
um grande vazio
Nas pernas
um certo cansaço
Na alma
um suor muito frio
Na fala
um nó na garganta
No dia
toda impaciência
Nos olhos
a desesperança
Na noite
um quê de carência
Nas mãos
a chance de tudo
Em mim
aonde não estou
Na mente
um medo absurdo
Nas letras
aquilo que sou

segunda-feira, 10 de março de 2008

Conclusão

Tudo dá certo no final
Eu só não queria
que chegasse
o final

domingo, 9 de março de 2008

Medo

Enfrento
nevascas,
tormentas,
furacões,
temporais
e pesadelos.

Mas não enfrento
fantasmas.
Esses são invencíveis.

Esquizofrenia

Esse meu choro
em forma de riso
Minha dor
em formato poesia

sábado, 8 de março de 2008

Polígonos

Ironia
quando tudo dá errado
só acerto em poesia

sexta-feira, 7 de março de 2008

Atemporal

Pra que contar os dias
sem te ver
se quando estamos juntos
a última vez
sempre se transforma
em ontem?

Delação

Cheguei na hora errada
eu reconheço
Mas, confesso, desconheço
se existe hora correta
pra sorrir um pouco mais
Pra deixar pra trás
a paz de uma tristeza
tão segura
pela busca incerta e escura
de uma nova chance

Eu poderia demorar mais alguns dias
tentar outros romances,
cometer novos enganos,
esperar mais uns meses
passarem-se anos
Mas as minhas poesias
não respeitam calendários
Elas só atendem sorrisos
não se detêm em horários
momentos, dilemas

Sim, cheguei na hora errada
quando o passado
ainda se faz muito presente
e o futuro
se apresenta muito escuro
pra poder seguir em frente
e ficar parado
talvez seja
a melhor solução
Por isso me contenho, me resguardo
e aprendendo a ser sozinho
te peço, envergonhado,
que me deixe abandonado,
mas me empreste o teu lado
pra eu curtir a solidão

Réplica

Ana Carolina que me perdoe
mas não existe hora errada
quando a canção é a certa

quinta-feira, 6 de março de 2008

Indecisões

Quando o assunto é você
ainda preciso entender
se é só calmaria
ou se vem tempestade.
Se esse sorriso é só sonho
ou se quer ser verdade.
Se ele aceita meu convite
à alegria
ou se vai ficar preso
à saudade.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Involução

Ontem
senti mais do que devia
Falei mais do que podia
Enxerguei mais do que havia
Sofri mais do que queria

Hoje
mais relaxo que espero
mais aceito que impero
Mas não minto, sou sincero
Mais desisto, mais eu quero

terça-feira, 4 de março de 2008

Currículo

Sou assim
não exijo demais

É só querer me ver
em um ou outro dia
Me fazer escrever
uma ou outra poesia
Fazer um carinho
como quem não quer nada
Sentir minha falta
em uma noite estrelada
ou chuvosa que seja
Vez por outra, quem sabe,
Um chopp ou cerveja...
E também,
por que não,
um certo sumiço.

Mas de antemão,
nenhum compromisso
Nem com você
Nem com a solidão

segunda-feira, 3 de março de 2008

Combate

Aquilo que eu falo
aquilo que eu calo

Segundos

E quando o tempo parecia
o fim de uma semana
você chegou com seu sorriso farto
a iluminar meu quarto
e a exalar o seu descompromisso
com o futuro
E a noite
que era, então, um dia escuro
de repente se acendeu
e eu que era pouco
de repente virei tanto
e o grito que era rouco
de repente virou canto
e a louca melodia
que buscava ser uma música
de repente fez-se letra
e tornou-se poesia

domingo, 2 de março de 2008

Surpresa

E eu meio largado
com meu boa noite
a esconder problemas
e de repente
você do meu lado
com uma noite boa
a desvendar poemas

sábado, 1 de março de 2008

Autópsia

Nada é pior
do que morrer um sonho
Pessoas morrem,
mas viveram.
Coisas acabam,
mas existiram.
Relacionamentos terminam,
mas encantaram.
Agora um sonho,
esse seria,
teria,
poderia.
E só.
Quando ele morre,
ele se vai
sem nunca ter tido
um presente
Lhe resta apenas
o futuro de um pretérito
que sequer chegou
a existir.

Nada é pior
do que morrer um sonho
É como sentir a dor
de perder algo
que nunca foi seu
É chorar a despedida
de alguém que,
em verdade,
nunca esteve aqui.